segunda-feira, 25 de março de 2013

Fui, Sou de Campo Grande


Iniciaremos nossa coluna com a história de uma mulher, médica, esposa, mãe e, atualmente, integrante da Força de Paz da ONU no Haiti.

Aline Batista de Castro, 37 anos, morou na Restinga da Marambaia (Guaratiba/RJ) e, posteriormente, se mudou com a família, pai, mãe e duas irmãs, para Campo Grande. 


Ao passar no vestibular, mudou-se para a Cidade de Valença/RJ, para cursar a Faculdade de Medicina (1998). Especializou-se, primeiramente, em Ginecologia e Obstetrícia pela UFRJ, (2002), segundo ela devido “o lidar com a mulher em todos os momentos da vida, pela possibilidade de participar de um momento singular como o nascimento de uma criança, entre outras particularidades da especialidade”. E, em (2010), Perícias Médicas pela Fundação UNIMED, o caráter investigativo e o crescimento nos últimos anos da especialidade, além do incentivo de sua irmã, contribuíram na decisão.

Filha de militar e admirando a profissão do pai, em 2002 entra para Exercito, como Oficial Médica Temporária e, em 2009, após aprovação em concurso público ingressa como Militar de Carreira. Antes disso, exerceu a profissão na Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.
Perguntada o porquê do Exército, ela responde com muita paixão: “Porque eu amo ser militar. Gosto dos nossos pilares: hierarquia e disciplina. Nunca pensei em outra Força Armada que não fosse o Exército.”

Em sua trajetória nesta Força Armada, serviu no Rio de Janeiro/RJ, Cuiabá-MT e Manaus-AM. Atualmente, está servindo na Força de Paz do Haiti.

Para chegar lá, inscreveu-se no site do Departamento Geral de Pessoal do Exército (DGP), passou por uma análise de inscritos, onde são selecionados os militares com o melhor perfil para cada missão, tendo sido designada como Chefe da Seção de Saúde do 17° Contingente de Engenharia de Força de Paz Haiti.
Selecionada, momento difícil, como ir para missão, de 6 a 8 meses, e deixar marido, um filho, João Vitor, de 4 anos e as meninas, Julia e Manoela, de 1 ano e 6 meses, a época. Além de estar fazendo Pós-graduação em Mastologia  em um serviço de excelência, no Hospital Central do Exército – HCE?  “Tive que deixar filhos, marido e curso para vir para a missão. E a decisão de vir acabou sendo tomada pelo desejo de participar da missão, de estar neste país, de conhecer sua cultura, seus desafios na sua reconstrução. Mas, principalmente, pelo incentivo constante do meu marido, parceiro de todo momento que não teve dúvidas em me dar apoio e entender que vir para o Haiti seria muito importante para mim como militar, como médica e como ser humano.” Comenta Aline.

Após a difícil decisão tomada, houve uma fase de preparação, no Brasil, para missão. Instruções sobre a situação do país, o Histórico do país e da Missão de Paz, Regras de Engajamento, GPS, manejo e execução de tiro de diversos armamentos, idiomas, além de um estágio específico na área da saúde que foi realizado na cidade de Santa Maria/RS, no período de 27 de agosto a 07 de setembro de 2012, foram realizadas. Período de treinamento intensivo visando uma preparação ideal para o emprego da tropa.

Partiu para a missão levando consigo uma imagem pessimista de um país destruído, porém ao chegar, relata: “esperava encontrar um país devastado pelas diversas catástrofes que o acometeu: terremoto, tempestades tropicais, furacões. Além da desigualdade social, que existe em todos os países, mas que aqui, pensava eu, era mais evidente. Como esperava pelo pior, minha primeira impressão não foi tão ruim. O trânsito é caótico, principalmente na capital, mas não impede de se locomover. Não vi tanta pobreza como imaginava, o que me deu até um certo orgulho de outros militares brasileiros que me antecederam. Enfim, a impressão que tive é de um país que tem carências mais básicas como energia elétrica, distribuição de água, moradias, mas que possuem uma força interior muito grande. Vi pessoas que perderam tudo, casa, família, trabalho, mas não perderam a esperança e o sorriso no rosto. Isso me surpreendeu muito.”

Durante o período da missão será chefe da seção de saúde do 17° contingente de Engenharia Força de Paz Haiti, coordenando uma seção composta por 2 médicos e seis sargentos de saúde, cuja função é cuidar da saúde da tropa para que militares brasileiros estejam com perfeitas condições de higidez física e mental para realizar o brilhante trabalho da Engenharia Brasileira no Haiti.


A Força de Paz

A Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti ou MINUSTAH (sigla derivada do francês: Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haiti), é uma missão de paz criada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 30 de abril de 2004, por meio da resolução 1542 para restaurar a ordem no Haiti, após um período de insurgência e a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide, por considerar que aquela situação ameaçava a paz internacional e a segurança na região. Para o comando do componente militar da MINUSTAH (Force Commander) foi designado o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, do Exército Brasileiro. O efetivo autorizado para o contingente militar é de 6700 homens, oriundos dos seguintes países contribuintes: Argentina, Benim, Bolívia, Brasil, Canadá, Chade, Chile, Croácia, França, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Portugal, Turquia e Uruguai. Os objetivos da missão são principalmente: manter um ambiente seguro e estável, pacificar e desarmar grupos guerrilheiros e rebeldes, promover eleições livres e informadas, e formar o desenvolvimento institucional e econômico do Haiti.



O Haiti

O Haiti é um país localizado no Mar do Caribe, na América Central, e que desde a sua independência enfrentou inúmeros problemas. Considerado a nação mais pobre das Américas, o Haiti, recentemente, viu sua situação piorar ainda mais após o terremoto ocorrido em 12 de janeiro de 2010, de grandes proporções, que destruiu boa parte das construções no país e fez mais de 300 mil vítimas fatais.
Além dos desastres naturais, o Haiti também sofre com a cólera, doença caracterizada por uma forte desidratação causada por diarréia. O infectado sente fortes dores abdominais, náuseas, hipotensão e taquicardia. Esta doença letal se iniciou no interior do país e rapidamente atingiu a capital.
A instabilidade política, os desastres naturais e as epidemias fizeram com que muitos haitianos saíssem do país em busca de melhores condições de vida.


Atualmente, as crianças estão com 5 anos, João Vitor, e 2 anos, Manoela e Julia, a comunicação é frequente pelo Skype e pelo Facebook, muitas fotos das crianças são postadas por uma de suas irmãs. “Nos falamos pelo skype com frequência. Posso interagir com as crianças e amenizar a saudade de todos. Também usamos outro aplicativo como Zello, que funciona como rádio. João Vitor adora usar linguagem rádio. É muito divertido. Mas matar a saudade é impossível, os meios de comunicação que utilizamos permitem que eu prossiga na missão aqui, e ele na missão de cuidar das crianças e seguir sua rotina no quartel” relata.

Em breve, estará a caminho do Rio de Janeiro, no final deste mê, para curtir a família e trazendo na bagagem crescimento profissional e principalmente como ser humano.

Parabéns a todos militares que já serviram e estão servindo nas Forças de Paz, principalmente as mulheres que lutaram tanto por este espaço!